sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Conhecer o Nepal nunca foi um dos grandes sonhos da minha vida. Eu sempre olhava a bandeirinha diferente lá no mapa e pensava “que coisa engraçada!”- mas nada me atraía o suficiente para que surgisse um desejo de conhecer o lugar. Depois de voltar à Índia, deitar na minha cama e fazer o balanço final da viagem, digo com toda certeza: essa falta de vontade existia pelo simples motivo de que eu não tinha idéia do que iria encontrar por ali – ou SE iria encontrar alguma coisa.

Resultado: me surpreendi demais. E foi maravilhoso.
A primeira impessão que eu tive ao desembarcar no (mini) aeroporto de Kathmandu foi: “tem alguma coisa errada por aqui; as pessoas parecem agitadas”. E sim. Segundo o guia que estava comigo, as coisas no Nepal tem estado diferentes de 2 anos para cá, quando a monarquia caiu e iniciou-se um novo regime – cuja percentagem é de 40% a favor e 60% contra. Ainda não existe Constituição, e pelo visto vai demorar.

Além disso, por questões de segurança, muita gente decidiu se mudar para a capital, fazendo com que Kathmandu sofresse um boom demográfico para o qual não estava preparada. Resultado: praticamente não há asfalto, a quantidade de hospitais e médicos é insuficiente, a população vive em extrema miséria, falta luz por pelo menos 2 horas em todos os bairros da cidade, a inflação é absurda, o trânsito caótico e mais todos os problemas de uma cidade que não consegue comportar o número de habitantes.

De qualquer forma, minha intenção era conhecer os resquícios dos reinos antigos e a cultura nepalesa, muito específica. A população é bem dividida entre hinduístas e budistas e tudo por ali exala religião. As pessoas se comportam de forma muito diferente, principalmente na maneira de vestir. Lembra um pouco a Índia, porém mais tradicional.
A época estava ótima: não era alta temporada – que geralmente cai em outubro e novembro – e a temperatura estava cerca de 13º a 15ºC. Os turistas eram majoritariamente europeus e americanos que procuravam um destino exótico ou hippies (aos montes!).

Os dois melhores lugares que fui foram Patan e Bakhtapur, antigas "cidades reais", cuja estrutura ainda permanece original.






A tradição é rodar os mantras (acima). Dizem que, ao rodá-los a sorte da vida de multiplica. Rodei todos. Agora é esperar para ver.

Também gostei muito dos monumentos budistas: o Boudha Stupa (do post anterior) e o Swayambhu (abaixo). Vários monges presentes buscando elevação. Muito bonito de ver.
Também subi (sim, de carro) até o topo de Nagerkot, para ver o Himalaia "mais de perto". A estrada é a mais maluca de todas. Mão dupla, cheia de curvas, sem sinalização. Tudo na base da buzina mesmo.
E, uma das experiências mais traumáticas: vi o sacrifício do cachorro em homenagem à deusa.
O maior problema no decorrer da viagem estava no aeroporto, que certamente não está preparado para a quantidade de vôos que tem. Primeiro que só quem está embarcando pode entrar – e há uma multidão na porta, famílias inteiras que querem passar até o último segundo com quem está indo viajar, quase um funil, que você tem que se espremer para conseguir passar. Depois que, provavelmente pela enorme quantidade de pessoas e o pequeno montante de empregos, "cria-se" empregos fictícios que fazem, por exemplo, você passar pelo detector de metal em pelo menos 5 momentos diferentes, ser revistado umas 3 e ter seu bilhete carimbado 4 - sem exageros. E sempre, sempre a superlotação. O vôo atrasou 2 horas e, assim como muita gente, eu tive que esperar sentada no chão. Existe apenas uma lanchonete e o que eles chamam de "duty free"é do tamanho do meu quarto. 

Chegando no avião tivemos que esperar mais 1h30 por conta de problemas com a torre de comunicação. Resultado: fúria.

A grande coincidência de tudo isso foi que, ao meu lado, estava sentado nada mais nada menos que um outro brasileiro. Pessoa muito bacana, trabalha em uma ONG que cuida de crianças órfãs e morava no Nepal há 4 meses (fora do Brasil há 17 anos). Estava de mudança para a Uganda e, pelo que percebi, leva uma vida bem nômade e feliz.

Devo admitir que o aeroporto de Mumbai também não é dos melhores, mas se você for espertinho, tudo se resolve de modo a não ser muito passado pra trás - leia-se: em algum momento você vai ser; só resta saber se será muito ou pouco. 

O maior problema daqui provavelmente é o motorista de táxi, que quer levar o máximo de dinheiro possível (muitas vezes não liga o taxímetro; ou só avisa no meio da viagem o valor fixo absurdo que, se você não pagar ele pode te deixar ali, no meio do nada; ou quando simplesmente se recusa a fazer uma corrida curta). Se acostumar com a malandragem pode levar algum tempo...

Essa semana de trabalho foi corrida, tivemos de resolver várias coisas a respeito do fechamento financeiro, das inovações propostas pelo novo chefe, do setor cultural e da assistência a brasileiros. 

Aconteceu algo inusitado: três jovens modelos brasileiras (20, 18 e 15 anos), acreditando que estavam prestes a fazer carreira internacional, vieram para a Mumbai e ficaram nas mãos desse "agente" que estava fazendo com que elas ficassem praticamente em cárcere privado - proibidas de sair do apartamento onde estavam, não recebiam pelo trabalho que faziam, estavam sendo maltratadas, agredidas moralmente, sendo coagidas a não entrar em contato com ninguém, vivendo em um ambiente sem nenhuma higiene, sem água filtrada e, se não estou muito enganada, chegaram muito perto de serem abusadas sexualmente.

O pai de uma delas, meio desesperado e sem notícias, ligou para o Vice-Cônsul que foi averiguar juntamente com a polícia local. Resultado: foi descoberta uma rede de tráfico de pessoas - que possui, inclusive, ajudantes no Brasil (supostos "agentes" brasileiros que incentivam as meninas a virem para os países asiáticos, onde são tratadas como lixo; quando não são levadas para a prostituição). 

Segundo o Rafael, parecia um filme de Bollywood. Foi feita toda uma operação: 5 carros de polícia, mais os dois carros do consulado, mais autoridades locais. Logística perfeita para capturar todos envolvidos e deu tudo certo: as meninas estão bem - obviamente com o psicológico todo ferrado - e vão para o Brasil no sábado.

O mais interessante é que esses "agentes" do Brasil pedem incisivamente que ninguém nunca entre em contato com o Consulado porque aqui nós poderíamos "dar um carimbo no passaporte das meninas e acabar com a carreira internacional de cada uma (?)". Falácia, afinal, o consulado está aqui para ajudar os brasileiros - e não para dificultar a vida de ninguém.  

Eu, particularmente, acho que os pais dessas meninas foram muito irresponsáveis e inconsequentes em permitirem uma coisa dessas - até porque Mumbai não é Milão. Deixaram suas filhas nas mãos de um desconhecido indiano. 

Outra coisa foi que, para virem para cá, elas assinaram um contrato que sequer leram - e assinando o mesmo, elas fizeram uma "dívida" de pelo menos 15 mil reais cada uma. E adivinhem só: se elas não conseguissem pagar com o tempo que estivessem "modelando" por aqui... o que será que aconteceria? Ein? One guess.
Bem, o desfecho foi positivo e isso é o que importa.

O clima por aqui está maravilhoso, muito fresquinho e úmido. Quero só ver quando fechar o final de fevereiro, rs.

Conheci uma indiana muito legal, a Sumedha, que é amiga do Pandya. Ela tem me ensinado várias coisas da cidade e temos feito passeios ótimos depois do trabalho - ela trabalha no World Trade Center de Mumbai, que fica muuuito pertinho do meu hotel.

Hoje a festa de Natal será na casa do Rafael e eu já estou bem animada. Comprei meu presente de amigo secreto, o bacalhau está sendo preparado, o salpicão, além do restante de coisas que o pessoal vai levar... ou seja, as comidas prometem. 

Combinei com os meus amigos indianos que irei passar o ano novo com eles. Não quero passar sozinha de novo e, qualquer lugar que eu fosse viajar, seria by myself. Eles vão fazer uma festa na casa da Sumedha e, aparentemente, será temática.
Desejo a todos um ótimo Natal :-)

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

de segunda a quinta-feira

Tô valendo menos que 1 rúpia indiana por não ter escrito nada antes de vir ao Nepal, mas a primeira semana de trabalho pesado não foi das mais fáceis (eufemismo lindo!).
Obs.: 1 rúpia = menos que 4 centavos.

O Embaixador chegou em Mumbai praticamente junto comigo, ou seja, o chefe é novato. E com isso surgem vários “problemas” que muitas vezes não têm solução rápida, como mudanças abruptas em relação à organização e procedimentos. Fiquei a semana inteira tomando conta disso e, como se não bastasse, o Conselheiro decidiu tirar férias a partir de sexta passada, ou seja, ele queria deixar tudo organizado para sua partida. 

Além disso, estamos vivenciando um clima meio tenso por conta de conflitos entre os contratados locais e um diplomata. Espero que isso acabe logo.

Apesar do trabalho, consegui a proeza de fazer algo bacana todos os dias após o expediente. Desde a saga gastronômica de conhecer todas as comidas do mundo (fui a um tailandês e estou sonhando com ele até agora) até um programa com os meus amigos indianos em Bandra – ótimo bairro da cidade, onde existe uma concentração honesta de barzinhos e restaurantes para sair à noite. É onde moram os artistas e o pessoal mais jovem. Só que... Bandra fica geralmente a 1h de Colaba (onde moro) e eu peguei um engarrafamento “daqueles” para chegar até lá. Os engarrafamentos em Mumbai não são como os do Rio; eles são realmente LOUCOS. Os carros conseguem fazer 6 fileiras em lugares que só possuem 4 pistas, por exemplo. Há a loucura de juntar animais, com milhares motocicletas, bicicletas, carroças, tuk-tuks e carros enlouquecidos que simplesmente ignoram qualquer sinal de trânsito. Além de que, para o motorista local, buzinar é quase como respirar. Ou seja, Luiza em pânico por 2h.

De qualquer forma, valeu muito a pena. Conheci um pessoal muito legal, fiz planos para a semana que vem e percebi que os indianos mais “ocidentalizados” são muito parecidos com os brasileiros; principalmente em relação ao comportamento (até as brincadeiras são iguais!).

Quinta-feira, na véspera da viagem ao Nepal, saí com o Rafael e a Mik e fomos a um italiano aqui do meu hotel que é maravilhoso. Os dois têm me dado a maior força. Combinamos da festa do Natal e pelo visto, vai ser ótima. Quanto ao ano novo, minha programação é: ____

Hoje foi o “Muharram”, o ano novo islâmico, que é um feriado nacional na Índia. Então eu decidi aproveitar meu único final de semana prolongado e viajei para o Nepal. Escrevo agora, sexta à noite, porque houve o “toque de recolher”, que em suma significa que todas as mulheres sozinhas devem voltar para casa. Além disso, amanhã quero começar a andar logo cedo.


Vou deixar a viagem para o texto de domingo, quando voltar para casa, mas seguem algumas fotos tiradas hoje:



As quatro acima são com complexo de Pashupatinath, um grande templo em homenagem a Shiva (todos os dias ocorrem várias cremações - inclusive, eu vi a de uma jovem; os corpos chegam envoltos em rosas e a cremação acontece no lugar público mesmo). As cinzas são jogadas do rio santo - abaixo. Os hinduístas acreditam que dessa forma o caminho para o céu será mais curto. Vale ressaltar que enquanto o corpo é cremado, todos os presentes estão felizes. Sério.


 Minha máquina conseguiu picotar 5 das melhores fotos do dia, mas OK.
Finalmente uma foto comigo!
As três acima são do complexo do Boudha Stupa, um dos monumentos budistas mais sagrados de Kathmandu.

Obs.: Para aqueles que ainda não se deram conta (?), se clicar na foto, ela fica maior :)

Obs 2.: A bandeira do Nepal é tendência. Acho que deveríamos adotar o modelo!


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Foi um final de semana meio agitado. Mumbai tem sido cada vez menos difícil de aceitar/amar e se tornado cada dia mais querida – muito devo ao guia da Lonely Planet, ao casal de amigos brasileiros e aos conhecidos indianos, em especial ao Aditya Pandya, que tem me explicado as coisas com bastante paciência. Seguem abaixo duas fotos aleatórias de ruas próximas de onde moro:

Obs.: A foto acima comprova que o black & yellow não é sempre de três rodas. Pelo centro da cidade circulam os mais... confortáveis, com 4 rodas e tudo. Abaixo está o ônibus convencional.
Sexta-feira à noite teve happy hour na casa do Rafael, que trabalha comigo. Ele e a esposa têm um núcleo de amigos (brasileiros, israelenses e indianos) bem legais, o que deixou tudo bastante confortável, com direito até à música ao vivo. Alguns estavam bem nostálgicos, já que boa parte do pessoal mora aqui há mais que 3 anos. Acredito que vamos passar o Natal e curtir a feijoada juntos – até tiramos o amigo secreto, mas eu não faço a menor idéia do que comprar.

Sábado foi o dia de dar um jeito no jet lag. Meu horário de sono estava todo alterado e eu tentei, de alguma forma, dormir o suficiente para me acostumar. 

De noite já havia programado o “jantar com o Embaixador" e tudo correu bem. Os convidados foram os brasileiros do Consulado e o local escolhido foi um restaurante francês (o único da cidade). Eu, que não entendo bulhufas de culinária francesa, estava um pouco receosa. Mas foi tranqüilo escolher a entrada, o prato principal, o vinho e a sobremesa no escuro, hahah. Foi um encontro informal e estava tudo bem gostoso. Só foi meio chato perceber que eu era a única da mesa que não falava a língua do cardápio fluentemente... Todos faziam os pedidos em francês e até o atendente encheu meu saco porque eu não sabia falar. Tipo, suuuuper legal (?).

Hoje foi um dia D na minha estadia aqui em Mumbai. Abusei da boa vontade de Pandya e fomos dar uma volta por Colaba – onde eu não pagaria uma fortuna no que eventualmente comprasse; é mais difícil de ser passada para trás na companhia de um indiano.

Fui ao Gateway of India, talvez o único ponto turístico de Mumbai. Havia um mundo inteiro de pessoas – algumas querem te vender coisas de toda natureza. Cheguei a ouvir algo como “você quer atuar em um filme de Bollywood?” – dizem que é normal o turista que vem aqui e paga uma taxa para aparecer de figurante em filme bollywoodiano. Weird. 

Acima a foto do Gateway e abaixo um cinema que só passa filme de Bollywood (em hindi):
Andei pelo mercado a céu aberto de Colaba (a região onde moro, ao sul de Mumbai), que é uma loucura. A maior concentração de badulaque já vista. Por sorte decidi não comprar nada, já que ainda quero voltar com mais calma ao final de viagem.

Almoçamos em um restaurante indiano-internacional bem legal, onde as paredes eram todas pintadas por Mario Miranda, um artista plástico de Goa, pequeno Estado indiano colonizado pelos portugueses. A comida estava ótima, mas HAJA PIMENTA.

Consegui finalmente comprar meu chip de celular – aqui na Índia é uma novela. Tem que ter comprovante de residência e mais um monte de documentos. Agora ninguém tem desculpa além da tarifa caríssima para não me ligar! Hahaha.

Durante a noite resolvi dar um passeio pela Marine Drive, a "Copacabana de Mumbai". O tempo ajudou muito, já que ainda está fresquinho. O pôr-do-sol estava lindo...

Bem, amanhã é segunda e essa semana terei bastante trabalho. Sexta é feriado por aqui e eu já comprei minhas passagens pro Nepal. Espero que seja uma viagem muito boa. 

Aaah, fui convidada para um casamento tipicamente indiano em janeiro e já estou ansiosa! É uma festança de uma semana e terei que usar um sari tradicional. Mágico! Já pensou? Rsrs

Olha a pose da bonita:

Pode?

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Namastê (ou नमस्ते)

Cheguei. E como já era esperado, dei de cara com um mundo de coisa diferente.

Primeiro que o vôo estava overbooked (portão lotado de gente no aeroporto de Frankfurt, mães e milhões de crianças chorando, correndo, arrancando os cabelos umas das outras) e eu no espírito "amo-muito-tudo-isso". Quando me deparo com o comissário de bordo me perguntando se por acaso eu não gostaria de ir na classe executiva. Erh... bem, é claro que eu já queria entrar no espírito multidão, mas a tentação de open bar e open food falou um pouco mais alto e lá fui eu aproveitar a sorte grande.

Vôo grande, burocraciazinhas na entrada - o oficial de imigração me pega um caderninho e vai anotando vagarosamente os dados do meu passaporte antes de me deixar entrar; sim, caderno daqueles sem espiral, com capinha de desenho animado e tudo. Bem no estilo "Welcome to India". Duas horas depois, às 3 da manhã, após encontrar meu colega de trabalho me esperando - Rafael, muito amigo de amigos meus de Brasília, gente finíssima - consigo resgatar minhas malas (destruídas pelo vôo) e vou para o hotel.

O trajeto Aeroporto - Hotel foi uma das coisas mais diferentes que eu já vi na vida. Primeiro, o cheiro. É muito forte, abafado; não é sempre, mas boa parte é como se fosse algo um grande banheiro a céu aberto - misturado com peixe, nos pontos mais críticos. Além disso, como já era imaginado, a cidade parece um daqueles filmes em que o tempo parou por 30 anos e as pessoas continuaram ali. Tudo, as construções, as pessoas, o modo como as coisas fluem, parece "sofrido demais".

No caminho passei pelo templo de Ganesha, pela favela dos pescadores (ao lado do meu hotel e é uma região tombada pelo valor cultural e histórico) e pelas milhares (sem exagero, não vi uma calçada que não houvesse ao menos 3 pessoas) dormindo entre os ratos no chão. Algumas, inclusive, dormem no meio fio, outras na própria rua - e o índice de violência da cidade é baixíssimo. São pessoas que moram tão longe que não compensa sair de seus trabalhos para pegar uma condução e gastar cerca de 3h no caminho para casa. Foto do templo de Ganesha - confesso que não achei bonito não, mas o motorista falou que dentro é maravilhoso:



O hotel que eu estou é muito bom; espero que seja tranquilo passar 3 meses por aqui.

Só consegui pregar o olho às 6h da manhã, depois de desfazer as malas. Acordei com o serviço de quarto batendo porta. Um fato curioso é que, para os hindus, somente as castas inferiores podem tocar no lixo - literalmente. Desse modo, só os dalits podem fazer serviço de limpeza.

Quando acordei já era mais de meio dia, me apresentei no Consulado, conheci o pessoal - todos são muito legais e prestativos. São apenas 4 pessoas do quadro do serviço exterior (eu, Rafael, Conselheiro Luis Antônio e Embaixador Josal) e mais 4 contratados locais (Aiesha, Patricia, Meena e Johan). Iniciei algumas atividades, mas estava exausta - aqui são 7h30 a mais que no Brasil.

Quando saí do trabalho, fui conhecer a esposa do Rafael - Michelângela, uma fofa, que tem me dado várias dicas desde que saiu a designação da missão. Ambos conversaram bastante comigo sobre a cidade e sobre as experiências (nem sempre boas) que já tiveram durante os 4 meses que já estão aqui. Como estava muito cansada, não fiquei por muito tempo e logo depois peguei um táxi para o hotel. E por táxi, eu digo o "black & yellow". É um dos meios de transporte mais comuns e seguros - e as corridas são muito baratas. Olha só um exemplo da gracinha...



Obs.: O que eu andei era um "carro normal".

No final de semana quero andar bastante por essa bagunça. Desde que eu decidi vir pra cá, tenho escutado muitas coisas ruins e controversas - não só de Mumbai, mas da Índia em geral. A vantagem foi ter vindo "esperando pouco" e sabendo que a Índia mística não aparece tão fácil - li muita coisa sobre o país e conversei com muita gente que esteve por aqui - e eu estou bem disposta a gostar muito deste lugar.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Tchau, Alemanha!


Ontem amanheceu nevando. E chovendo. E ventando. Ao mesmo tempo. Mas, como eu disse que não ia ter nevasca que me impediria de colocar em prática todos os meus planos, assim foi. Me dei o luxo de acordar um pouco mais tarde, comprei a máquina fotográfica, fui aos museus, andei muito por essa cidade. Negociei em alemão com um turco muito malandrinho, mas acredito que acabei me dando bem.


Meu grande problema foi: é impossível comer coisas saudáveis quando se tem Lindt por 1 euro, milhões de queijos deliciosos e baratos e, ah... as salsichas. Mas quando chegar na Índia eu recupero, malho e emagreço (ou não, hehe). 


As feiras a céu aberto são maravilhosas. Boa parte do centro é apenas para pedestres e, quando você menos espera, do nada aparece uma ruela que na verdade é um grande mercado.
O show de noite foi legal, apesar de curtinho. Foi uma apresentação conjunta da Melissa com o Troy von Balthazar, que é um fofo. O único problema foi que o ambiente era fechado demais e o cheiro não estava lá muito agradável - acho que os alemães pensam que não precisam tomar banho por ser inverno.


Hoje foi um dia maravilhoso. Cerca de 8 graus (agora sim uma temperatura civilizada!) e sem nada caindo do céu. Fiz um tour em um daqueles ônibus de turismo - sim, é brega, eu sei, mas estou indo embora amanhã! - e na hora do almoço decidi dar um descanso para a cozinha alemã e descobri o amor da minha vida que me conquistou pelo paladar (vide foto abaixo)...
Eu poderia ficar horas nesse lugar. A cada dia aumenta minha vontade de conhecer o Vietnã!


Parei em uma feirinha de coisas típicas, fui ao Deutsches Museum (continuo achando um saco museu ligado a ciência e/ou tecnologia) e caminhei por um par de horas pelo centro histórico, onde descobri alguns brechós muito bacanas - mas não tão baratos. 


Ah, ainda deu tempo de descobrir que o Niemeyer é onipresente:
Briiinks, rsrs.


Também cogitei ver o "Castelinho da Disney" - Neuschwanstein - mas fiquei meio traumatizada com o quanto já me falaram que não vale a pena se deslocar até lá. É cerca de uma hora de viagem.


Munique transborda cultura. Em toda esquina existem folhetos pregados nas paredes a respeito de apresentações, peças, concertos, cursos e outros eventos bacanas


Neste momento, acabeeeei de chegar do show do MGMT e não consigo me conter de tanto ânimo. Maior concentração de indies alemães por m2 (pai, google it). Estou meio sem palavras para o quão sensacional a banda é e o para o quão maravilhoso o show foi. No site de vendas os ingressos estavam esgotados, mas me arrisquei indo de mãos vazias. Ia comprar ingresso de um menino indie-wanna-be que não devia ser maior de idade e me ofereceu pelo Last.FM, mas ele me deu o cano. Consegui comprar de uma garota na porta. Valeu a pena demaaais!
(A foto é de quando a banda que abria o show nem tinha começado. Depois lotou um bocado.)


Dentro de algumas horas pegarei o trem para Frankfurt e de lá vou direto pra Mumbai. Tô muito ansiosa para ir, mas quero voltar a Munique com mais tempo. Quem sabe um dia não venho morar aqui? :) #sonho
"Munich glows" - Thomas Mann

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Brrr...



Chegar na Alemanha pela segunda vez ainda dá a sensação de primeira. Ainda mais em dezembro, quando tudo é bem diferente. Não é pior, mas os trens atrasam, as pessoas estão nervosas e ninguém te atende bem - é como se fizessem um grande favor saindo para trabalhar em pleno inverno.

Depois de voar Lufthansa (jantar e café-da-manhã em porções francesas e televisão comunitária. Isso mesmo: você faz um vôo de mais de 11h e tem direito a ver o filme que eles querem que você veja. No caso, só filmão-comédia-romântica-mamão-com-açúcar blergh), e desembarcar em Frankfurt, fui questionada na imigração mais uma vez sobre o famoso "motivo de viagem". Já foi dito um milhão de vezes pelo MRE que o próprio passaporte oficial já é argumento suficiente para você comprovar a sua viagem a trabalho. Bem, na prática não parece ser bem assim. Faz uma falta enorme um passaporte diplomático para evitar dor de cabeça na imigração.

Devo admitir que eu estava subestimando o frio alemão. Nuuunca mais na minha vida farei isso. Tava frio mesmo! Saí do aeroporto para pegar um trem só com uma blusa de frio de gola, calça jeans e tênis e olha: CONGELEI. Parecia um pinguim correndo para ver se aquecia. Sorte que a estação era logo ali.

Deixei uma das malas no luggage storage e fui carregando a outra. A viagem de trem foi simplesmente maravilhosa - fui de primeira classe porque aproveitei uma super promoção no site da Deutsch Bahn sou fina e foi bem confortável. O trajeto é provavelmente um dos mais lindos que já fiz. Tudo cheio de neve e, quando aparecia alguém lá de longe andando com sobretudo preto e guarda-chuva no meio do todo branco era meio mágico; as fotos seriam maravilhosas se eu não tivesse dado a máquina fotográfica para minha irmã um dia antes de viajar (no aeroporto não deu para comprar, mas arrumarei uma em breve). O trem parou em Mannheim, Ulm, Stuttgart e Algsburg.

Chegando em Munique, eu, que não sou boba nem nada (?), resolvi ir à pé para o hotel, já que no google maps parecia tudo muito pertinho e ver a cidade seria uma boa idéia - mesmo com o solstício transformando 16h em escuridão. Acontece que a caminhada era de 1km, estava fazendo nada mais que -1°C e minha mala pesava 32kg. Mas deu tudo certo.

O hotel é bacana, arrumei tudinho e saí para comer - porque se dependesse da Lufthansa eu estaria perdida. Cheia de Baviera feelings, chutei o balde e pedi logo currywurst (sim, o salsichão) com bastante chucrute e uma Löwenbräu e tava... uma delícia. Andei mais um pouco pela cidade e foi ótimo. A cada passo eu pensava que deveria ter trazido as botas - mesmo pesando 2kg a mais na mala.

Por estar passando apenas 3 dias, optei por ficar em uma região mais turística, perto do que é principal - o que implica em conviver tanto com os museus quanto com as famosas "casas de show".

Já fiz minha programação de amanhã e não vai ter nevasca que vai me impedir de visitar a Neue e a Alte Pinakothek - além de ver o show de Auf Der Maur. Munique é linda!

Obs.: A foto foi tirada de dentro do trem, pelo celular.