sábado, 29 de janeiro de 2011

Long time no see.


Exatos 50 dias de Índia, mais da metade do tempo que ficarei por aqui, e uma saudade por antecipação.  O subcontinente já me deu tantos presentes, que me sinto com uma espécie de dívida com esse lugar. A sensação de “estar em casa” veio logo já no começo. Fiz amigos maravilhosos e tenho tentado ao máximo explorar todos os locais que posso.

Aqui se encontra gente de todos os estados, com todo tipo de intenções e costumes. Certamente muito mais ocidentalizada do que as cidades do interior – onde, em alguns locais, as pessoas se casam com 7-8 anos de idade, o índice de alfabetização feminina é absurdamente pequeno, carne é realmente sagrada e todos são bem mais apegados às tradições – Mumbai é um reflexo de todo o país. Logo após ver um casamento tradicional no meio da rua, você pode ver um ator de Bollywood descolado com seu grupo de amigos mais modernos que a galera de Tóquio.

Tenho trabalhado bonitinho e feito muita coisa legal aqui para Consulado. Espero que o que eu deixar seja positivo e continue.

Essa semana tivemos o feriado do Dia da República na Índia, 26 de janeiro. A cidade estava em clima de festa – havia crianças distribuindo bandeirinhas indianas por todos os cantos. Aproveitei para visitar o campus de um dos meus amigos, o IIT (Indian Institute of Technology), que fica ao norte da cidade, em uma região bem bonita, com lagos, toda arborizada. Na volta quase tive um acidente sério ao pegar o trem. Segurei na barra de ferro da porta para me apoiar e o trem começou a acelerar, antes mesmo que eu entrasse. Meu corpo hesitou em pular para dentro e eu simplesmente caí na plataforma enquanto o trem foi embora. Poderia ter sido perigoso, eu sei, mas algumas pessoas me ajudaram, não me machuquei muito e ficou tudo bem. Da próxima vez vou pensar 2x antes de trocar o táxi pelo trem – a vantagem é que o último, apesar de mais “emocionante”, é muito mais rápido e barato.

Bem, do dia 04 para cá muita coisa aconteceu...

Estive nas cavernas de Ellora e Ajanta, ambas próximas a Aurangabad, uma cidade nada bonita aqui no estado de Maharashtra. Tive minha primeira experiência em viagem de longa distância com ônibus – você acha que a estrada Belém-Brasília é ruim? Você acredita que o banheiro daquele Posto de gasolina horroroso no meio do nada é sujo? O seu ônibus é desconfortável? As pessoas estão com o desodorante meio vencido e eventualmente roncam? Você não viu nadaaaaa... Enfim, quite an experience. Mas valeu a pena. Ellora fica bem próximo à cidade. Pegamos um rickshaw (um daqueles taxis que possuem 3 rodinhas) e percorremos os 30 km até as cavernas no primeiro dia.  Foi maravilhoso pensar que há vários séculos as pessoas foram capazes de fazer tanta arte com apenas pregos e martelos. São 34 cavernas construídas em períodos diferentes – algumas hinduístas, outras budistas e outras jainistas.



Já no domingo, para ir a Ajanta, a única saída era pegar um ônibus e viajar por 3 horas. As cavernas são mais antigas que as de Ellora - e mais detalhadas, tendo muitas vezes pinturas, além das esculturas. Não é permitido tirar fotos dentro, por causa do flash - muita gente esquece ligado e pode causar danos às imagens. Uma pena que estava muito lotado e algumas das grutas não puderam ser vistas porque estavam em manutenção. Abaixo vai uma foto do complexo de Ajanta, visto de longe.
No outro final de semana, a princípio, eu tinha planos de ir a Khajuraho, Chennai ou Kuala Lumpur. Mas mudei de idéia de última hora; sempre tive muito mais vontade de conhecer um pouquinho da Tailândia. E não me arrependi: Bangkok é uma das cidades mais charmosas que já fui.  Ao desembarcar no aeroporto já estranhei o fato de tudo ser tão high tech. A cidade é toda “pra frentex”. Tradição se misturando com novidade de forma muito mais severa que aqui em Mumbai. Foi meio que um susto sair do país dos panos e dos trens caindo aos pedaços para o dos mini-shorts e trens-bala. Muitos templos budistas espalhados pela old town, imensos shoppings, a maior quantidade de transexuais por m2 e as barraquinhas de churrasquinho de sapo, tudo vivendo harmonicamente. A questão da comunicação foi meio complicada – o inglês dos tailandeses é ininteligível; mas mímica está aí para isso. Já a massagem tailandesa...  é um sucesso. Fiz duas vezes e estou querendo encontrar um lugar por aqui que faça igual.
A cidade realmente me surpreendeu.





No final de semana passado cedi aos prazeres da carne e fui à Goa, um estado de colonização portuguesa aqui da Índia, cuja capital fica a 500km de Mumbai. Foi estranho ver tantos estabelecimentos com nomes familiares. Era Mercearia da Silva pra cá, Drogaria do Souza pra lá... E não era apenas o idioma. Goa tem todo um espírito próprio, um ritmo diferente do restante da Índia. Praias belíssimas do Mar Arábico e os melhores frutos do mar que alguém pode comer. Muito turista e um climinha de pedaço de litoral do Nordeste brasileiro – sem multidão e sem gente de biquíni/sunga. Quase todos, principalmente os locais, entram na água de roupa mesmo. De noite vários restaurantes e barzinhos no pé da praia, todos bem bonitos...

Goa tem várias subdivisões. Eu escolhi ficar no Sul, onde tudo é mais calmo e é possível descansar bem. O hotel era próximo a Margaon, na praia de Colva, mas onde eu decidi passar os dias mais no extremo sul, em Canacona, na praia de Palolem. Minha intenção com essa viagem era não me preocupar com muita coisa, esquecer do trabalho e simplesmente ter um momento agradável – e o Norte provavelmente não me daria isso, já que é mais cheio de gente, há vida noturna intensa, muito barulho.
Palolem é um verdadeiro paraíso. A foto abaixo é da bonita aqui andando pela praia.



Neste final de semana resolvi ficar por Mumbai e dar uma organizada nas minhas coisas. Semana que vem Rafael volta de férias e teremos muito o que fazer no Consulado. Também pretendo visitar Varanasi em breve...

Logo logo vai começar o festival de cinema em Mumbai e eu estou animada. Vários outros eventos legais – que geralmente acontecem antes de maio/junho, por causa das monções – também estão por vir.

No mais... Vai um sapinho frito?


terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Passou o Natal, passou o Ano Novo...
E o que aconteceu? Bem, considerando que eu estou levando a vida de uma “moradora estrangeira de Mumbai”, tenho agido como tal. Trabalho, hotel, hotel, trabalho, casa dos amigos, jantar fora eventualmente e por aí vai.

É cada mais vez mais visível a dificuldade de ser uma mulher - viajando sozinha - na Índia. Escolher quais as cidades são viáveis de se ir só é um graaande processo seletivo. E não, não é frescura. É precaução e segurança. Já contei dos taxistas malandros, mas além disso também tem a questão da língua (nas cidades menores é ainda mais escasso o número de pessoas que falam inglês) e o fato de ser um alvo fácil, uma vez que se chama muito a atenção.

Passei o Natal na casa da Mik e do Rafa e foi muito legal. Tava todo mundo com uma vibração muito boa, muitos comes e bebes, música e gente bacana. Pra variar, eu fiquei cansada e com sono acumulado no meio da festa. Resultado de dias cheios. Mas isso não é nenhuma novidade, não é mesmo?
 Natal chic!
 Os anfitriões queridos!
Hhhmmm...

Durante a semana passada tive momentos ótimos. Passeios bons, fui ao shopping, aproveitei o preço baixo das coisas, reencontrei um amigo muito nerd (e engraçado), comi bem até falar chega e, no final de semana, a festa de fim de ano. Estou no futuro, então entrei em 2011 7h30 antes de o pessoal no Brasil. Passei na casa dos amigos indianos e foi ótimo. É engraçado ver a diferença no comportamento do jovem indiano “indoors”. Eu, preocupada, fui de vestido branco e uma pashmina, pra cobrir os ombros, coisa que quase sempre faço ao sair na rua. Chegando lá, a surpresa: as meninas de vestidinho, os meninos todos descolados e eu “a la indiana”. Foi bem divertido; antes eu estava com algum medo de ficar deslocada, mas isso não aconteceu. Como todas as fotos de início de festa, só a galera bonita e saudável:


(Ou nem tanto... hehe)


Passei o restante do fim de semana quase inteiro na casa da Mik vendo filme, falando/escutando da vida e comendo bem (cozinheira de mão cheia!). Fui agraciada com a feijoada (maravilhosa!) no domingo e olha a felicidade:
Percebi que me acomodei um pouco e não gosto disso. Não quero começar a achar normal esse universo de coisa diferente em que estou vivendo. É estranho olhar para a rua e ter a sensação de que estou acostumada. Eu não quero me esquecer da sensação de deslumbre que foi o trajeto do aeroporto ao hotel no primeiro dia que cheguei nesta cidade.

Senti falta de viajar, uma vez que passei os últimos tempos por aqui, e relembrei que, antes de vir, tinha feito diversos planos de viagens de fim de semana. Voltei a fazê-los de uns dias pra cá; algumas farei sozinha, outras com amigas indianas, outras com Miki e Rafa. Espero que dê tudo certo.

Minhas metas para os próximos finais de semana são:

7-9/01 Ellora e Ajanta
14 –16/01 Kuala Lumpur
21 – 23/01 Khajuraho
29-30/01 – Chennai e Mamallapuran

Os seguintes destinos ainda não têm data definida, mas acontecerão em fevereiro e início de março:

Bangkok
Varanasi
Delhi e Agra
Jaipur
Goa
Ilha de Elefanta

Falando em listas, as coisas que mais gosto em Mumbai, atualmente, são: lichia e pitaya liberados. Mik e Rafa. O hotel. Morar no hotel. O preço das coisas. Olhar a rua e ainda me deslumbrar com cultura diferente. As línguas. O caos. O fato de eu não me importar tanto com o barulho e com a quantidade de gente. Sumedha, Saranya e Pandya. A comida (isso inclui lichia e pitaya liberados – além do café da manhã do hotel). As cores. O cheiro ruim que já virou quase bom. O clima de felicidade que vem do nada. O do trabalho, que está cada vez melhor. A temperatura, que ainda está agradável. Ganhar em dólar. Ter a sensação de que esses podem ser três dos melhores meses da minha vida. Ver o quanto meu inglês tem melhorado (e meu progresso em entender o inglês indiano). O povo daqui.

Ainda assim, uma das coisas que mais me assusta é o valor que o indiano dá a todos aqueles que são considerados “brancos”. Ser branco aqui na Índia é sinônimo de ser superior. A “fair skin” é um dos maiores atributos que alguém pode ter. É esquisito; porque “os brancos isso” / “os brancos aquilo”...  Se você é de uma casta inferior, mas é branco, isso já te faz (um pouco) mais respeitável. Veja só:

Na propaganda acima nota-se que “passaporte estrangeiro é na fila ao lado” e ela comenta “ah, sou indiana...” – vejam a transformação total da morena pra albina. Ahan...

Na acima, a garota começa a ter chances de virar uma jornalista esportiva famosa depois que conheceu o creme para "embranquecer".

É isso. Quem tiver mais interesse, um vai um vídeo-documentário um pouco maior:



Obs.: Cortei meu cabelo e curti. Teve gente que achou radical e teve gente que não viu diferença. Tá no ombro.


Obs2.: Não, não vou voltar com 50kg a mais. Estou fazendo academia (Oh!).